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A Forma Transcendental de Deus



Em algumas passagens, os Vedas parecem indicar que Deus não tem forma ou qualidades. No entanto, o verdadeiro ensinamento dos Vedas afirma que Deus possui uma forma transcendental e eterna. Ele é o maior dos maiores e o menor dos menores. Ele é tão abrangente, que pode conter infinitos universos dentro de Si e ao mesmo tempo é tão minúsculo, que é capaz de residir dentro do átomo. Deus é aquele que não possui um rival. Aquele ao qual ninguém se iguala ou compara, que é Único. 


Há outro ponto que devemos considerar. Nas escrituras, as palavras como nirguna (sem qualidades), nirakara (sem forma ou substância), arupa (sem forma ou beleza) e avyakta (não manifesto), não são palavras raiz. De guna (qualidade) surge nirguna (sem qualidade); de vishesha (especialidade ou singularidade) surge nirvishesha (sem especialidade); de akara (forma e conteúdo) surge nirakara. Ao considerarmos que a forma existe, é que podemos conceber a ausência da forma. A negação só é possível a partir de algo que existe. Não poderíamos pensar no ateísmo sem que houvesse a existência do teísmo.

É possível conceber e definir somente aquilo que possui existência. Portanto, quando alguém diz que Deus não existe ou que Ele não possui uma forma, está automaticamente legitimando a existência de ambos. Ninguém pode pensar ou definir aquilo que não existe. Portanto, se Deus pode ser pensado e definido pela linguagem, Ele existe.


Diferente de todas as demais tradições teístas, a liturgia védica apresenta Deus de uma maneira muito mais complexa e completa. De acordo com os Vedas, Deus possui, simultaneamente, três aspectos.


“Grandes visionários, conhecedores do Senhor Supremo Krishna, revelam que, apesar de ser indivisível, Krishna se manifesta simultaneamente em três diferentes aspectos como Brahman (aspecto impessoal, a refulgência que emana do corpo de Krishna), Paramatma (o aspecto localizado de Krishna, dentro de cada átomo e do coração de cada ser vivo) e Bhagavan (Sua forma e personalidade originais).” (Srimad-Bhagavatam 1.2.11)


Deus não poderia se limitar a apresentar-se como tendo apenas um desses aspectos, como defende a escola monista de Shankaracharya, conhecida como Advaita-vedanta. Outra alegação feita pela escola Advaita de Shankaracharya é que Brahman se torna Isvara (ou Bhagavan) quando entra em contato com  maya, ou seja, que a Verdade Absoluta primeiramente é impessoal e depois se torna uma pessoa sob a influência da energia material ilusória. 


No entanto, esta ideia já foi de antemão refutada pelo próprio Krishna, há cinco mil anos, muito antes do nascimento de Shankaracharya. Krishna disse no Bhagavad-gita:


“Homens sem inteligência ou discriminação pensam que Eu era impessoal e depois assumi esta Personalidade. Eles não conhecem Minha natureza transcendental que é imperecível e superior a tudo que existe.” (Bhagavad-gita 7.24)


“Os tolos zombam de Mim quando assumo a forma humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental e Meu supremo domínio sobre tudo que existe.” 

(Bhagavad-gita  9.11)


Além de Se manifestar pessoalmente neste mundo, Krishna também manifesta-Se na forma de Sua deidade, conhecida como vigraha. "Vi" significa especial e "grahan" significa que Ele assumiu esta forma voluntariamente. Através da deidade, Krishna recebe tudo o que Lhe oferecemos com amor e devoção. 

No Vedanta-sutra afirma-se: pratikena na hi sa – ‘na forma da deidade Ele é o próprio Krishna’ ou ‘Ele não é uma estátua, mas o próprio Krishna’. 


“Ó Verdade Absoluta, sustentadora de todos os seres vivos, Tua face está coberta por Tua refulgência deslumbrante como o ouro. Remove esta cobertura e mostra-Te a Teu devoto puro.” (Ishopanishad 15)

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