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Quantum Vedanta Como Ele É




Mesmo antes da época de Sócrates (470 a. C.), filósofos e cientistas europeus já visitavam as terras ancestrais da mãe Índia, à procura de sua maior riqueza: o conhecimento dos Vedas. A primeira universidade datada na história é a Universidade de Takshashila (cerca de 800 a. C.), localizada no noroeste da Índia, hoje conhecido como Paquistão. No entanto, muitos estrangeiros que lá estudaram o conhecimento védico, levaram de volta consigo as informações recebidas, mas passaram propagá-las como se tivessem sido recém descobertas por eles mesmos, omitindo fazer referência à jazida védica como a fonte original de todas aquelas jóias. O caso mais famoso é o do matemático grego Pitágoras (571 a. C.), que apresentou ao mundo um teorema copiado por inteiro do livro Sulba-sutras, um clássico da literatura védica, escrito por Boudhayana (cerca de 1000 a. C.). Mais tarde, após a invasão do Império Britânico na Índia, o mesmo incidente ocorreu com Isaac Newton, com relação aos seus estudos sobre cálculo, que foram retirados do Livro de Cálculos de Kerala (1350 d. C.). O próprio Newton revela: "Se posso ver mais longe, é porque me ergo sobre os ombros de gigantes”.


Entretanto, o maravilhamento dos europeus diante das minas do conhecimento védico os conduziu a questionar os indianos sobre como puderam desenvolver essas teorias tão complexas, que mais pareciam pertencer ao futuro do que ao tão distante passado, que remonta às origens da civilização humana nesse planeta. Portanto, eles responderam: “Nós não o fizemos. Por certo, dentro do mundo material, devido à percepção sensorial limitada, ninguém seria capaz de produzir tal conhecimento. Tudo o que conhecemos foi revelado nos Vedas por Deus mesmo. Quem mais seria capaz de revelar todo esse conhecimento que está para muito além de nossos limitados sentidos materiais?”.


Adiante, os ingleses perguntaram por que novas fórmulas e tecnologias não estão sendo desenvolvidas para expandir o conhecimento dado? Com firmeza, os cientistas védicos disseram que não tinham desejo de conhecer nada além do que Deus lhes havia concedido através dos Vedas. O conhecimento científico revelado servia exclusivamente para ser aplicado no dia a dia de seus ritos religiosos. Em outras palavras, de acordo com os Vedas, a meta da ciência é servir a religião. É delinear o caminho do indivíduo em suas práticas diárias e rituais que servem para estabelecer uma conexão com o Divino e com com a identidade espiritual eterna de cada um de nós.


No entanto, devido ao ateísmo dos falsos cientistas ocidentais, eles se interessaram somente pelo que os Vedas explicam precisamente sobre as ciências exatas e negligenciaram os aspectos religiosos que estão relacionados com estas ciências, bem como as explicações dadas por elas sobre a natureza da alma e de Deus. Porém, para os sábios védicos, o conhecimento contido nos Vedas não pode ser aceito parcialmente. Os Vedas são como um corpo. Se removermos qualquer parte, todo o organismo será afetado. Eles são um todo interconectado e interdependente, porque foi desenhado com apenas um objetivo: guiar a humanidade em direção a perfeição espiritual, pelo caminho do serviço devocional a Deus.


Seguindo este fluxo, no começo do século XX, físicos ocidentais foram expostos à filosofia do Vedanta e alguns deles ficaram fascinados sobre como o Vedanta poderia supostamente explicar algumas das questões mais difíceis da Física quântica. Digo ‘supostamente’, pois este artigo tem por finalidade demonstrar que o Vedanta aceito por eles, não é o Vedanta original, apresentado por seu autor Vyasa deva.


Os primeiros investigadores quânticos como Planck, Schrodinger, Heisenberg e Bohr se refugiaram no Vedanta a fim de elaborar suas teorias acerca das macro e micro-estruturas da matéria, bem como da consciência individual e universal presente nelas, como afirmou Erwin Schrodinger: “O Vedanta ensina que a consciência é singular, que todos os acontecimentos são manifestos dentro de uma consciência universal e que não há multiplicidade de eus.” Contudo, esta percepção do Vedanta se refere especificamente à da Escola Advaita, ou monista, estabelecida por Shankaracharya no século II, na Índia.


Os propagadores mais famosos desta teoria, Swami Vivekananda e Rabindranath Tagore, conquistaram a atenção dos cientistas ocidentais, influenciando-os com o equivocado conceito da unidade não-distinta entre Deus e as almas individuais, como se vê nesta declaração de Schrodinger: “Por ele mesmo, o insight não é novo. O reconhecimento de que ATMAN = BRAHMAN (o eu individual é idêntico ao onipresente e todo penetrante eterno EU) foi considerado pelo pensamento indiano, longe de querer ser blasfemo, como a quintessência do insight mais profundo dentro dos acontecimentos mundiais. O esforço de todos os literatos do Vedanta foi, após aprenderem a pronunciar com os próprios lábios, assimilar de fato em suas mentes este que é o maior de todos os pensamentos. Novamente, os místicos dos séculos passados, independentemente, mas em perfeita harmonia entre si (semelhante às partículas de um gás ideal) descreveram, cada um deles, a experiência única de suas vidas em termos que podem ser condensados em uma frase: DEUS FACTUS SUM (Eu me tornei Deus)”.


Shankaracharya norteou seu comentário sobre o Vedanta-sutra em quatro pequenos aforismos conhecidos como maha-vakyas: aham brahma’smi (Eu sou Brahman), tat tvam asi (Você é Aquele Brahman), prajñanam brahma (todo o conhecimento é Brahman) e sarvam kalvidam brahma (Brahman está em toda parte). Sua interpretação sobre o Vedanta enfatiza a não distinção entre a alma individual e Brahman, bem como o fato de que Brahman não possui forma e atributos pessoais, e está manifesto em tudo, tanto no mundo material, quanto no espiritual, tanto nas entidades móveis, quanto nas inertes.


Na verdade, diferente do que propõe a Escola Advaita, o Vedanta-sutra afirma que o Brahman possui Sua individualidade eterna e também forma, características próprias e é repleto de bem-aventurança (ananda-mayo’bhyasat). De acordo com a gramática sânscrita, a palavra ‘brahma’ neste contexto não significa Deus, mas sim aquilo que é ‘divino’ ou ‘transcendental’. Para se referir a Deus, o Ser Supremo, é necessário utilizar-se do termo Param Brahma. Param significa o supremo, então se houver algo ainda mais elevado do que brahma, este não pode se referir diretamente a Deus, porque Deus é o Todo-poderoso Param Brahma. Palavras tais como brahma, atma (alma) e isvara (controlador) podem ser usadas acompanhadas do sufixo ‘param’, elevando-as de categoria. Nós somos atma e Deus é Paramatma, a Superalma. Os semideuses são isvara, mas Deus é Paramesvara, o Controlador Supremo.


Desse modo, os maha-vakyas de Shankaracharya modificaram o significado original do Vedanta-sutra e, portanto, não podem ser considerados como fonte confiável de validação tanto científica quanto religiosa. Além disso, este não é o único comentário sobre o Vedanta-sutra disponível. Comentários como o de Ramanuja Acharya, Madhva Acharya e Baladeva Vidyabhusana oferecem uma compreensão apropriada acerca do significado original do Vedanta-sutra, baseado na concepção de um Deus eternamente distinto de Suas criaturas e criações. Todavia, as respostas que os físicos quânticos desejavam obter, baseadas em paradigmas egocêntricos, foram contempladas pela Escola Advaita. Mas, considerando que estas respostas não estavam corretas, qual é a razão de se ter orgulho da pseudo-influência do Vedanta sobre a Física quântica? Por certo, esses físicos quânticos jamais poderiam ter sido chamados de vedantistas, pois isto seria, sem sombra de dúvidas, uma ofensa à tradição védica.


Uma declaração como esta pode deixar os físicos quânticos e seguidores da Escola Advaita envergonhados, mas para salvar as gerações futuras das teias da ignorância, devemos expor suas falsas teorias e estabelecer o verdadeiro conceito do Vedanta como ele é. Só assim, poderemos saber se o Vedanta realmente pode dialogar com a física quântica ou não.


Primeiramente, como comecei apresentando neste ensaio, a filosofia e a ciência contidas nos Vedas nunca propuseram que a humanidade fosse capaz de conhecer toda a verdade acerca da existência. O que quer que seja necessário para que o ser humano possa conhecer a meta suprema e o destino final da vida, o Criador fará com que este conhecimento se torne acessível a todos, automaticamente. Perguntas tais como: “o que é matéria negra?”, “o que é gravidade?”, “existem multi-dimensões?”, “pode um elétron residir em dois locais ao mesmo tempo?”, dentre outras deste naipe, não são nem um pouco relevantes para aqueles que estão praticando o que o Vedanta ensina como sendo o dharma eterno da alma: o serviço devocional puro a Deus.


Por este motivo, o primeiro verso do Vedanta-sutra é athato brahma jijñasa – “devemos primeiramente questionar sobre a Verdade Absoluta ou Brahman”. O verso não diz que devemos primeiro questionar sobre a realidade subatômica! Isso demonstra claramente o fato de que os físicos quânticos se utilizaram das escrituras védicas da maneira como lhes foi conveniente, mas sem adotar o modus operandis védico, como confessa Heisenberg: “Experimentos são o único meio de conhecimento à nossa disposição. O resto é poesia, imaginação”. Ao mesmo tempo que se vale de sentenças védicas para ilustrar seus ensaios, Heisenberg nega a validade do caráter divino e infalível do Vedanta, afirmando que a única chave para compreender a realidade é através de experimentos. No entanto, o verso do Vedanta-sutra ‘sastra yonitvat samanvaya’ nos orienta mui claramente neste sentido: “Para conhecer a Verdade Absoluta deve-se estudar as escrituras védicas”.


Os físicos quânticos estão tentando em vão explorar o mundo além dos sentidos sem admitir a presença de Deus, o qual é conhecido como Hrishikesh, o Mestre dos sentidos e, portanto, inúmeros conflitos e distúrbios sociais surgem em decorrência desta tentativa frustrada. A qualidade da onisciência pertence exclusivamente a Deus, e a mensagem fundamental do Vedanta é que somos servos eternos de Deus e Suas partículas divinas. Não deveríamos passar nossas vidas tentando contar estrelas no céu ou grãos de areia na praia. Viver possui um sentido muito mais elevado e o Vedanta-sutra o apresenta claramente desde o primeiro verso.


Através de sentidos limitados não podemos capturar a realidade transcendental e, para tanto, o Vedanta nos ensina sobre apaurusheya. O processo de apreensão do conhecimento espiritual deve ser obtido de cima para baixo, ou seja, deve ser revelado pelo próprio Criador. Do contrário, sempre permaneceremos na escuridão de nossa limitada percepção sensorial. Assim sendo, estes fisicos são como cegos trabalhando na escuridão, e quando um cego guia outro cego, ambos caem no buraco.

O Vedanta não necessita de qualquer interpretação para ser compreendido, mas devido ao seu nível intelectual altíssimo, muitos fracassam ao tentar explicá-lo corretamente e, como resultado, encontramos várias escolas oferecendo cada qual sua própria interpretação do Vedanta. Mas assim como o cisne pode separar o leite misturado n’água, o leitor qualificado do Vedanta, conectado a uma sucessão fidedigna de mestres autorrealizados, sabe que ali está presente um importante conceito chamado acintya-bheda-abheda (ABA).


O conceito de ABA foi revelado pelo avatar Sri Chaitanya Mahaprabhu, há quinhentos anos, e literalmente significa: “a inconcebível diferença e semelhança simultâneas entre dois objetos”. O conceito paradoxal de ABA está presente no Vedanta como sendo o meio através do qual Deus pensa e atua em relação a quase todos os aspectos da vida, e como Ele constrói os reinos material e mental. Por quê? Porque a vida é um modelo tão complexo que torna a possibilidade de sua existência absurdamente rara e insubstituível dentre infinitas possibilidades. Para criar todo esses cenários de milagres, Deus encontrou Sua medida através do equilíbrio entre a existência e a não existência, entre a possibilidade e a impossibilidade. Então, devemos aprender a primeira lição do Quantum Vedanta: Deus é o único capaz de atuar sob qualquer paradoxo, e ainda assim fazê-lo parecer completamente coerente.


Quando a teoria quântica sugere que não podemos manter uma porta fechada e aberta ao mesmo tempo, isso desafia diretamente a potência divina chamada aghatana-ghatana-patiyasi, a potência de fazer o impossível possível, como já descrito no caso de ABA. Assim, o Vedanta que poderia ajudá-los a entender o que é a física quântica, é o Vedanta ABA, o qual revela que os paradoxos existem em todos os níveis da realidade, começando pelos elétrons e culminando na própria natureza de Deus.


Em outras palavras, Deus e as almas são semelhantes em qualidade, mas diferentes em quantidade. Porque viemos dEle, possuímos a mesma natureza, mas porque Ele é onipotente, se difere das almas infinitesimais que possuem poderes limitados. Igual em qualidade, mas diferente em quantidade. Este é o verdadeiro salto quântico!

Considerar que todas as almas são Deus, mas ao mesmo tempo não conseguir responder a questões básicas sobre os mistérios da vida, é uma contradição. Ironicamente, a concepção da não-diferença entre Deus e as almas se encaixou perfeitamente com o falso ego e o orgulho dos cientistas ocidentais, que clamam ser ou terem se tornado Deus.


Mas o que encontramos nos Upanishads é a seguinte afirmação:


nityo nityanam cetanas cetananam

eko bahunam yo vidhadati kamam


(Svetasvatara Upanisad 6.13)


“Dentre inúmeros seres eternos, um é a fonte da eternidade. Dentre inúmeros seres conscientes, um é a fonte da consciência.”


Os físicos quânticos tentam demonstrar a complexidade das regras universais observando o comportamento elementar das partículas subatômicas. Mas ao isolarem e observarem algumas partículas atômicas dentro de máquinas em laboratórios, os físicos pensam que serão capazes de compreender o mecanismo chave de todo o universo, bem como sua natureza intrínseca e desenvolvimento, como supõe Schrodinger: “A unidade e continuidade do Vedanta estão refletidas na unidade e continuidade das ondas mecânicas. Isso condiz inteiramente com o conceito do Vedanta do Todo na parte.”


Ao gerar uma condição artificial, como poderão expressar a realidade? Esse impasse, no entanto, foi curiosamente questionado pelo próprio Werner Heisenberg em seu Princípio da Incerteza. Ele disse que, quando um físico se esforça para observar uma partícula subatômica, os equipamentos necessários para o experimento alteram inevitavelmente a trajetória das partículas. O que quer que seja utilizado para filtrar a realidade dentro da percepção do observador, sejam os instrumentos, máquinas ou os próprios sentidos, já corrompem a pureza original do fenômeno em si. Max Planck também confirma isso ao declarar: “Qualquer um que tenha se dedicado seriamente a algum trabalho científico de qualquer tipo, percebeu que à entrada dos portões do templo da ciência estão escritas as seguintes palavras: ‘Deveis ter fé’. Essa é uma qualidade indispensável para todo cientista”.


Outro ponto importante é o fato de que quando se apoiam em probabilidades, os cientistas acabam pisando fora do campo da ciência, flutuando no vazio. Em seguida, ainda querem posar como filósofos ou poetas, escrevendo sobre seus delírios como se fossem o resultado das mais profundas reflexões da mente humana. Como Neils Bohr mesmo confirma: “O mundo quântico não existe. Existe apenas uma descrição abstrata da Física quântica. É errado pensar que a tarefa da Física é descobrir como a natureza é. A Física se preocupa com o que podemos dizer sobre a natureza…”


Não obstante, todas essas declarações deveriam ter sido suficientes para tê-los feito abandonar por completo seus experimentos e se abrigar definitivamente na tradição védica de se fazer ciência. Mas por que eles não o fizeram? Porque continuaram conduzindo experimentos e teorias evasivas que nunca ajudarão a humanidade a avançar espiritualmente?


Ao invés de tentar entender por si mesmos, os cientistas poderiam fazer uma simples pesquisa no Quinto Canto do Srimad Bhagavatam e ler diretamente os registros sobre a origem da vida, criação, manutenção e destruição do universo. Aliás, o Srimad Bhagavatam por sua vez é apresentado como sendo artho yam brahma-sutranam, o comentário natural do Brahma-sutra ou Vedanta-sutra, escrito pelo mesmo autor Krishna Dvaipayana Veda Vyasa.


No mundo quântico ocidental, quando os sentidos alcançam seus limites, os físicos se tornam filósofos e místicos, mas porque não cultivam a postura de servidão em relação a Deus e não aprendem o Vedanta através de uma sucessão discipular de mestres autorrealizados, suas falsas teorias se tornam um veneno para eles mesmos.


Um cientista ocidental é aquela pessoa que, apesar de todas as limitações dos seus sentidos, aspira insvestigar e conhecer através de meios mecânicos aquilo que Deus mantém em segredo e oculto para a mente humana. Quando eles forem capazes de elevar suas consciências ao nível da alma, compreenderão que a onisciência que almejam, é um atributo exclusivo de Deus e somente quando Ele desejar, este conhecimento poderá ser revelado, como está explicado no verso do Vedanta-sutra tarkapratisthanath.

Quando a inspiração divina se manifestar, a mente saberá, o coração sentirá e a alma celebrará.

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