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Quem somos nós segundo o Vedanta



Muitas pessoas acreditam que todos somos Deus. No entanto, o conhecimento esotérico revelado nos Vedas contradiz esta ideia. A alma individual é semelhante a Deus em qualidade, porém distinta em quantidade. Este conceito é conhecido como Achintya bheda-abheda tattva: a inconcebível diferença e semelhança simultâneas entre a alma e Deus.

Segundo os Vedas, não somos e jamais seremos Deus. Não há nenhuma vantagem para Deus em Se tornar cada um de nós e viver as misérias deste mundo material. Deus é eterno, completo em Si mesmo, autosatisfeito, autosuficiente e pleno de bem-aventurança. Portanto, é uma heresia dizer que Deus tornou-Se um reles mortal como nós.

No Bhagavad-gita (15.7), Krishna diz: “Todas as almas são partes eternas e fragmentárias de Mim”. Todas as almas são, por natureza, servas eternas de Deus e foram criadas para se dedicarem ao Seu serviço devocional amoroso. Porém, ao entrarmos em contato com a potência ilusória do Senhor, chamada de Maya, passamos a nos identificar com o corpo material e nos ocupamos em satisfazer nossos sentidos e desejos materiais. “Dentre todas as almas eternas, Krishna é o Ser Supremo Eterno; e dentre todos os seres conscientes, Ele é a Consciência Suprema. (Katha Upanishad 2.2.13) “Embora, as almas sejam não diferentes de Krishna, elas são também eternamente diferentes dEle. A diferença eterna entre a alma e Krishna, é que Krishna é o Senhor de Maya, enquanto que as almas poderão cair sob o controle de Maya, mesmo após serem liberadas, devido à natureza constitucional delas.” (Dasa-mula-tattva 5)

De acordo com os Vedas, a alma pode habitar em diferentes corpos como o dos seres humanos, insetos, pássaros, animais, árvores e plantas, até o menor dos vermes – porém, sua atribuição eterna de ser uma serva do Senhor não muda. Embora não sejamos este corpo, agora pensamos: “Eu sou este corpo”. Isso acontece devido à inconcebível potência de Krishna chamada de Maya.


Quando entramos neste mundo, pensamos: “Sou o proprietário de tudo. Sou o pai, sou o filho, sou a mãe, o marido e o rei. Sou o próprio Deus”. E então Maya dirá: “Se você acha que este mundo foi feito para o seu desfrute, lhe darei todos os tipos de sofrimentos na forma das quatro misérias materiais: nascimento, doença, velhice e morte”.

Sendo forçada a transmigrar continuamente de um corpo para outro de acordo com o próprio carma, a alma às vezes é rei, outras vezes servo; às vezes homem, às vezes mulher; às vezes encarna como semi-deus nos planetas celestiais, outras vezes é enviada ao inferno; quando não, encarna no corpo de um animal, inseto, vegetal etc. Mas a despeito de sempre estar buscando a autosatisfação, a lei deste mundo material é tal, que faz do próprio esforço para se obter prazer, a causa de todo sofrimento.

A alma quando condicionada ao mundo material também está sujeita a quatro tipos de defeitos: à tendência de enganar aos outros e a si mesma; à possuir sentidos imperfeitos, nem sempre capazes de oferecer informações precisas sobre algo; à estar constantemente iludida; e à propensão de cometer erros. Por isto, qualquer tentativa de obter informações precisas sobre algo, sempre resultará em erro, o que dirá, então, sobre tentar compreender a Verdade transcendental.

Os Vedas nos contam que Vidura, um amigo íntimo de Krishna, foi até Badrikashrama, nos Himalaias para se encontrar com o sábio Maitreya, um asceta que recebera todo o conhecimento de Krishna. Vidura perguntou-lhe: “Por quê, embora a alma seja um ser consciente e esteja sempre conectada com Krishna, acaba enredada na ilusão do mundo material?”.

Maitreya respondeu: “Posso dizer-te, brevemente, qual é a única razão: Krishna é dotado de uma potência capaz de fazer o impossível possível e que encobre Sua própria misericórdia, condicionando assim as almas a este mundo”.

A região da qual as almas se originam, chamada de tatastha-shakti, está localizada entre o mundo material e o mundo transcendental. Isso significa que as almas não tiveram qualquer contato prévio com Krishna, embora possuam uma propensão latente de servi-lO. Por essa razão é que nenhuma alma jamais caiu da morada de Deus, porque uma vez alcançando esta morada, de lá ninguém retorna.

Tal é o poder de Krishna e a alma não pode fazer nada contra o arbítrio dEle. Enquanto a alma estiver envolvida com atividades fruitivas, Krishna como Paramatma, presente dentro do coração de cada ser vivo, testemunha suas atividades e concede-lhes seus respectivos carmas. São como dois pássaros sentados no mesmo galho. Enquanto um come os frutos da árvore, o outro apenas observa. Na medida em que agimos, Krishna nos confere o carma referente à cada ação, sem jamais errar a medida.

Por que, então, Krishna faria algo que causasse intenso sofrimento às almas? A resposta é que há diferentes passatempos de Krishna, incluindo este de criar o mundo material e aprisionar as almas nele. Só assim, Ele poderá manifestar as qualidades de compaixão e misericórdia, ao salvar as almas das garras de Maya.


Não deve haver escassez na variedade dos passatempos de Krishna. Krishna é completamente independente. Você não pode fazer-Lhe a pergunta: “Krishna, por que Você fez o mundo assim?” Você não poderá entendê-lO através da lógica e da argumentação. Desafiá-lO não é a melhor forma de compreendê-lO, mas sim orando e implorando por Sua misericórdia. No Gita (10.10), Krishna diz que “para aqueles que estão constantemente devotados e Me adoram com amor, dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim.”

Não podemos compreender assuntos transcendentais com nossa mente material. Portanto, devemos nos basear unicamente naquilo que foi declarado nos Vedas e, em especial, no Shrimad Bhagavatam, que é a essência de toda literatura védica. Devemos depender exclusivamente dos ensinamentos dos grandes mestres e da misericórdia do próprio Krishna para compreender os mistérios da vida.

O sábio Maitreya continuou: “Onde não há luz, há somente escuridão. O que é a escuridão? A existência da escuridão não é independente; ela é simplesmente a ausência da luz. Da mesma forma, se não houver serviço a Krishna, haverá ilusão. Assim como se você estivesse dormindo e visse no sonho sua cabeça ser decepada. Quando você acorda, no entanto, vê que nada disso era real. Do mesmo modo, quando você despertar para a consciência de Krishna, através da misericórdia do mestre espiritual, pensará: ‘O que eu estava vendo como realidade era apenas um sonho’. Se o sofrimento vier, não fique nervoso ou perturbado. Pense que este sofrimento é aparente e existe apenas porque você está iludido”.

Quando alcançarmos a perfeição espiritual, veremos que, na verdade, não existe nem o aprisionamento nem a liberação. A alma condicionada apenas pensa que ambos existem. De fato, o sofrimento não existe em si mesmo. O que existe é a identificação da mente com um problema e a consequente interpretação do mesmo. A natureza eterna da alma é plena de bem-aventurança e o sofrimento advém somente quando há a identificação com os corpos inferiores. Uma vez que a alma, iluminada pelo conhecimento transcendental, rompe com esta identificação, qualquer problema ou distúrbio causados a ela deixarão de ser um sofrimento e passarão a ser vistos como misericórdia de Krishna. “Assim como a lua refletida na água parece tremular por estar associada à natureza da água, a alma, quando em contato com a matéria, aparenta ser material". (Srimad-Bhagavatam 3.7.11) A lua está no céu. Existe água no lago e a lua está refletida nele. Há também uma árvore na margem do lago. Quando o vento sopra, tremulando a água do lago, parece que a lua e a árvore estão se movendo. Na verdade, a árvore e a lua permanecem imóveis em suas posições originais. Similarmente, a alma está sempre servindo a Krishna, mas enquanto estiver sob a influência de Maya, pensará que mantém nenhum tipo de relação com Ele. Mesmo vivendo neste estado de condicionamento material, estamos todos servindo a Krishna de algum modo. Todos os seres vivos são atores coadjuvantes nos passatempos eternos de Krishna neste mundo.

Se cobrirmos um relógio com um pano, não poderemos ver nenhum movimento, porém os ponteiros continuam se movendo. Da mesma forma, toda alma, mesmo que condicionada, continua sendo uma serva eterna de Krishna e O está servindo sempre. “A identidade transcendental da alma é ser uma serva eterna de Krishna. As almas se originam da potência marginal de Krishna e são ao mesmo tempo iguais e diferentes a Ele.” (Sri Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 20.108) Todos nós, enquanto almas, possuímos um belo e maravilhoso corpo transcendental. Toda alma, por ser eterna e imutável, já possui uma personalidade, um relacionamento e um serviço específico para com Krishna. Mas no estágio condicionado, é como se a alma estivesse congelada. Ela já possui todas as suas características próprias, mas ainda não pode manifestá-las. Somente após passarmos pelos diferentes estágios da prática de bhakti-yoga é que poderemos aos poucos “descongelar” a alma, para finalmente reavivar nossa natureza intrínseca como servos eternos de Krishna.


“Após muitos e muitos nascimentos, obtemos a rara forma de vida humana, a qual, embora temporária, confere a oportunidade de alcançarmos a perfeição máxima. Portanto, um ser humano sóbrio deveria se esforçar para alcançar a perfeição máxima da vida, enquanto seu corpo não decair e morrer. Além do mais, a gratificação dos sentidos está disponível até mesmo nas espécies de vida mais abomináveis, enquanto que a consciência de Krishna é acessível apenas para aqueles encarnados como ser humano.” (Srimad-Bhagavatam 11.9.39) Este mundo não nos pertence; aqui somos como refugiados. Esquecemo-nos de Krishna e, por isso, ficamos reféns de nossos próprios atos. Se após recebermos um corpo humano, continuarmos nos dedicando apenas a comer, dormir, acasalar e nos defender, desperdiçaremos mais um nascimento, nos comportando como animais. A vantagem de se ter um corpo humano é poder fazer o que nenhum outro ser é capaz: amar e servir o Senhor Supremo Krishna.

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