O Vedanta Como Ele É
"A alma não se satisfaz com a visão árida e insípida do Advaita Vedanta de Shankaracharya, cuja proposta é provar que somos idênticos ao Senhor Supremo. É chegada a hora de despertar do sonho infantil de querermos ser Deus, para compreender que somos nada além de Seus servos eternos. Encontrar e manifestar nosso amor e devoção pelo Senhor Supremo é a verdadeira mensagem do Vedanta e o único meio de alcançarmos a tão sonhada bem-aventurança."
Por mais complicado que possa parecer, o Vedanta não se propõe ao exercício da filosofia analítica ou da lógica, muito menos é um tratado sobre a teoria do conhecimento, ou ainda um alfarrábio litúrgico. O Vedanta é, antes de tudo, uma experiência real de amor divino, uma vivência ímpar de sublimação dos sentidos materiais, permitindo que estes alcancem um estado de absorção completa na bem-aventurança transcendental, através do serviço devocional ao Senhor Supremo. Portanto, o Vedanta é a consumação do nosso relacionamento eterno com o Senhor Supremo, com a Verdade Absoluta, que nos é revelado através da liturgia primogênita, conhecida historicamente como Vedas.
Vedanta significa a essência ou a conclusão dos Vedas, e seu estudo sistematizado revela-nos que a função eterna da alma é amar e servir o Senhor Supremo. Em todo relacionamento, pressupõe-se a relação entre no mínimo duas pessoas. Baseado nisto, o Vedanta nos apresenta quem é a Pessoa Suprema com a qual devemos procurar nos relacionar através do processo de Bhakti-yoga: União através do serviço devocional.
O Vedanta parte do princípio de que somos cada qual uma alma individual, única, eternamente distintas umas das outras e de Deus, e cuja natureza intrínseca é amar. Porém, este potencial para amar só encontra sua expressão máxima quando direcionado exclusivamente para o serviço amoroso prestado ao Senhor Supremo. É somente em contato com a Pessoa Suprema que a alma tem a oportunidade de expressar todo este potencial.
A inclinação inata da alma para amar e servir ao Senhor Supremo é chamada de Dharma. E a expressão dessa individualidade, no que diz respeito à poética deste Dharma, é o modo único e insubstituível pelo qual cada um de nós pode prestar este serviço.
Todos temos um propósito superior na vida, um talento especial que desejamos compartilhar com o mundo, a fim de poder servi-lo. No entanto, este talento único só alcança a perfeição máxima quando empregado no serviço a Pessoa Suprema, a qual recebe o nome de Krishna. É servindo Krishna que nos será concedida a chance de experimentarmos a plenitude de nossa própria razão de ser e existir.
Os ensinamentos do Vedanta se destinam a nos ajudar a compreender este Dharma eterno, como o desdobramento da perfeição – quando tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos, serve exclusivamente ao propósito mais elevado de amar e servir a Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Amor é um verbo transitivo. Quem ama, ama alguém. Por isso, dizer que todos somos um e o mesmo, aniquila a possibilidade de amar e servir, posto que só haverá um sujeito sem objeto algum. No entanto, o Vedanta nos explica que, em toda a existência, só há um Sujeito e que todos nós somos Seus objetos relativos.
Infelizmente, são muitos os autores que descrevem o Vedanta como uma filosofia que prega a unidade indistinta entre a alma e Deus, como se ambos fossem o mesmo ser, aparentemente separados pelo véu da ilusão. No entanto, o que o Vedanta-sutra e as demais escrituras védicas nos ensinam é que nós e Deus possuímos uma natureza inconcebivelmente igual e diferente ao mesmo tempo. Ou seja, igual em qualidade, mas distinta em quantidade. Assim como a faísca cuja natureza possui as mesmas qualidades do fogo, porém em uma quantidade mínima.
Brahmá, o criador deste Universo recebeu este conhecimento de Krishna e o transmitiu a seu discípulo Nárada-muni, que por sua vez o transmitiu a Vyasa-deva, que materializou todo esse conhecimento na forma dos quatro Vedas, Upanishads, Puranas e do Vedanta-sutra. Esses três grandes mestres ficaram famosos por serem exemplos vivos de devoção e serviço a Krishna, sempre pontuando em seus ensinamentos a necessidade de nos tornarmos servos do Senhor Supremo e jamais pensarmos que somos Ele ou que Ele não possui uma forma e personalidade transcendentais. Antes de definirmos o caráter de uma obra, devemos conhecer o caráter de seu autor. Brahmá, Nárada e Vyasa-deva jamais declararam ou demonstraram por qualquer ato que nós somos o próprio Ser Absoluto e que Este é desprovido de forma em Seu aspecto mais completo e original.
O centro de gravidade do ser é o coração, porque é ali onde a alma reside. Portanto, o Vedanta será compreendido somente por aqueles que conhecem a linguagem do amor. Aqueles que tentarem se aproximar do Vedanta por intermédio da mente analítica, ou jñana, jamais serão capazes de compreendê-lo, como bem explica o sutra ‘tarkapratisthanath’, no qual Krishna diz: “Ó meu bom rapaz, não é através da lógica e da deliberação que se pode conhecer a Verdade Absoluta, mas apenas é concedida tal oportunidade a quem Ela mesma escolhe”.
Este livreto reúne de modo resumido os ensinamentos de grandes mestres como Srila Ramanuja Acharya, Srila Madhva Acharya, Srila Jiva Gosvami, Srila Baladeva Vidyabhusana Prabhu, Srila Bhakti Prajñana Keshava Gosvami Maharaja, Srila AC Bhaktivedanta Svami Prabhupada e Srila Bhakti Vedanta Narayana Gosvami Maharaja, os quais são os guardiões do Vedanta como ele é, cujo significado esotérico vem sendo transmitido através de uma sucessão discipular autorizada pelos Vedas, que começa com Krishna e culmina em Sri Chaitanya Mahaprabhu, até os dias de hoje, através da tradição Sri Brahma Madhva Gaudiya Sarasvati Sampradaya.
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