GUIA PRÁTICO E TEÓRICO DO JEJUM DE EKADASHI
A ORIGEM
O jejum de Ekadashi é praticado há centenas de milhares de anos na Índia e, há quase um século, vem sendo praticado em outros países por seguidores da cultura védica. Mas, há mais ou menos cinco anos, o Ekadashi vem sendo popularizado entre os leigos e já conta com milhares de admiradores e seguidores no Brasil e no Mundo. A palavra Ekadashi refere-se ao ‘décimo primeiro dia’ após a lua cheia e a lua nova de cada mês lunar.
A TRADIÇÃO
O conhecimento da tradição védica da Índia antiga é capaz de combinar espiritualidade e ciência de forma harmoniosa e sincrônica, provando ser a melhor opção para aqueles que desejam avançar no caminho da autorrealização e da comunhão com o Divino, aliado a uma ótima saúde física e mental. Vale ressaltar que a antiga Índia foi o berço da matemática, biologia, química, física, medicina, artes etc.
DE CORPO E ALMA
De acordo com várias tradições esotéricas do mundo, jejuar sempre esteve associado não apenas à desintoxicação, mas também ao despertar espiritual em contato com o Divino. A palavra em sânscrito para jejum é upavasa, que significa “residir mais próximo”. Em outras palavras, o jejum nos permite maior aproximação com o Divino. Na Índia, o Ekadashi é respeitado como um dia sagrado e também conhecido como Hari-vasara, ou o dia em que o Ser Supremo se manifesta e concede infinitas bênçãos àqueles que buscam a união com Ele. É sabido que até mesmo aqueles que jejuam acidentalmente no Ekadashi também recebem incalculáveis benefícios físicos e espirituais.
A LUA E OS GRÃOS
Como todos sabem, a Lua exerce influência direta sobre as águas do planeta levantando marés e agitando o corpo humano, que é composto por 75% de água. É a partir do Ekadashi que a Lua passa a exercer maior influência sobre nosso organismo e é quando ficamos mais vulneráveis à ação de doenças e de óbito. É justamente a partir do Ekadashi que podemos nos sentir mais fracos, cansados e, por este motivo, devemos jejuar especificamente de grãos e outros alimentos nocivos para não sobrecarregarmos nosso organismo. Os grãos funcionam como uma esponja e retêm muita água, e quanto menos água estiver retida no corpo nesse período, menor será o efeito negativo da Lua sobre ele. Assim, não podemos comer grãos, como cereais, feijões e lentilhas no Ekadashi. Mas, no entanto, beber água no Ekadashi não é prejudicial.
O QUE NÃO COMER
• Todos os grãos e cereais (arroz, trigo, milho, cevada, aveia, linhaça, centeio, alpiste, painço, amaranto, gergelim, ervilhas, lentilhas, feijões, soja, grão de bico etc)
• Alho e cebola (e qualquer outra aliácea)
• Cogumelos
• Carnes e ovos
• Mostarda
• Comidas industrializadas que contenham amido de grãos, lecitina de soja, gelatina, fibras de grãos, xaropes de grãos e tudo que possa conter traços de grãos na receita e na composição. Leia os rótulos com muito cuidado antes de consumir qualquer alimento durante o Ekadashi.
• Não pode fazer Massagem com óleos feitos com alimentos proibidos, porque há absorção pela pele.
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É melhor evitar o café, chá preto e chá mate por conterem muita cafeína e não ajudarem no equilíbrio psico-físico.
A DURAÇÃO
O jejum de Ekadashi acontece a cada 14 dias, começa sempre à meia-noite do dia anterior e dura aproximadamente 36 horas. As datas para o início do jejum e os horários específicos para a quebra serão sempre disponibilizadas em nossas redes sociais, pois variam de cidade para cidade. De acordo com o calendário lunar, o Ekadashi é uma tithi, um período através do qual se conta o movimento da Lua, cujo ciclo tem duas partes de 14 dias cada, ou seja, 14 tithis. Uma movendo-se para a Lua cheia e a outra para a nova. Assim, teremos dois Ekadashis em cada mês lunar. Mas não adianta seguir o Ekadashi, contando os dias com 24hs solares de cada mês, porque não é a mesma coisa. O ciclo da Lua é independente do ciclo do Sol. Muita gente erra o dia do jejum, quando calcula os dias da Lua pelo padrão solar. O cálculo para determinar quando começa ou termina o Ekadashi-tithi está baseado na astrologia védica e é muito complicado. Portanto, se faz desnecessário tentarmos explicar aqui.
A QUEBRA DO JEJUM
É muito importante quebrar o jejum no horário permitido, pois isso demonstra que você só jejuou durante o período do Ekadashi e não em outro. Para isso, existe um tempo de transição entre o Ekadashi e o Dvadashi (que é a próxima tithi), no qual você deve quebrar o jejum. Caso você quebre antes ou depois do horário permitido, seu jejum não será completado com o sucesso esperado e será considerado inválido tecnicamente. Parece algo insignificante, mas certamente não é, assim como tudo que a ciência védica milenar nos recomenda fazer. O cálculo feito para determinar este período é muito complexo e não vale a pena tentar explicá-lo aqui.
A CIÊNCIA MODERNA
O Prof. Valter Longo, que é diretor do Instituto de Longevidade da Universidade do Sul da Califórnia – Escola de Gerontologia Leonard Davis, em Los Angeles, um dos principais centros de pesquisa sobre envelhecimento e doenças relacionadas à idade, e também diretor do Programa de Longevidade e Câncer do Instituto IFOM de Oncologia Molecular em Milão, Itália, vem conduzindo uma série de estudos sobre o jejum de calorias. Ele reduziu em 40% o consumo de calorias para um grupo de estudantes por um período de quinze dias e observou que houve uma melhora significativa do sistema imunológico deles. No entanto, ao final do experimento, os estudantes estavam se sentindo fracos devido à mudança drástica no hábito alimentar e acabaram retornando para a mesma dieta calórica de antes.
Considerando estes dados, ele continuou pesquisando até chegar à conclusão de que não era preciso jejuar calorias todos os dias, mas bastava fazer um jejum completo, de água e comida, por trinta e seis horas, a cada quinze dias, para que todo o sistema imunológico fosse regenerado. Este tipo de jejum funciona como um “interruptor regenerativo” que estimula as células-tronco a aumentarem a produção de leucócitos. Quando sentimos fome por um período prolongado, o organismo tenta economizar energia e recicla as células imunes que não são mais necessárias, especialmente aquelas que podem ser cancerígenas. Este fenômeno conhecido como autofagia também foi pesquisado a fundo pelo prêmio Nobel de medicina Yoshinori Ohsumi, que demonstra como o sistema imunológico é completamente regenerado através do jejum.
O jejum vem sendo estudado pela ciência moderna como um dos meios mais eficazes para se curar quase todas as doenças, promover o rejuvenescimento, o aumento da autoestima, a eliminação da depressão etc. Há estudos que demonstram que é possível jejuar até 60 dias só bebendo água!
OS BENEFÍCIOS
O estudo supracitado do Prof. Valter Longo demonstra como a antiga tradição védica tem sólidos fundamentos científicos e uma profunda compreensão do motor da natureza e da fisiologia humana. Porém, ao jejuar a cada 15 dias por 36 horas no período do Ekadashi, teremos um resultado ainda melhor do que se jejuássemos em qualquer outra data: “Jejuar no Ekadashi traz limpeza dos órgãos dos sentidos e do funcionamento motor, adequada excreção de toxinas, fome e sede governáveis, purificação do pericárdio, relaxamento da tensão corporal, aumento da alegria, e diminuição da ansiedade e da apatia” (Ayurveda Sutrasthanam 14.17). Por cuidar tanto do corpo quanto da alma, o jejum de Ekadashi provou ser a maneira mais eficaz e rápida de promover saúde, bem-estar, equilíbrio psicofísico e espiritual.
SEM CONTRAINDICAÇÃO
O jejum de Ekadashi não pertence a nenhuma religião ou seita, mas é um presente do Criador para toda a humanidade. Qualquer pessoa pode fazer este jejum, independentemente de suas crenças. Não há tampouco qualquer contraindicação ou efeito colateral físico, emocional, mental ou espiritual, desde que seguidas as orientações deste guia.
RECOMENDAÇÕES
Para se alcançar um resultado mais profundo no Ekadashi, recomenda-se a abstinência de sexo, todas as carnes, alho, cebola, cogumelos, café, açúcar refinado, comidas industrializadas, narcóticos, jogos de azar, televisão, rádio, conversas mundanas etc. Em contrapartida, procuramos intensificar nossas orações, mantras, austeridades, devoção, meditação, introspecção, reflexão, contemplação etc. Assim, facilitamos o recebimento de curas, bênçãos, respostas, e especialmente de muito amor. Além disso, antes de cada jejum, podemos colocar uma intenção ou um propósito e, ao final, podemos pedir bênçãos para nós e para outras pessoas também.
O DESAFIO
Jejuar nem sempre é fácil e prazeroso para quem é iniciante e pode se tornar uma experiência desagradável por uma série de razões. Dores de cabeça e nas juntas, irritação, impaciência, preguiça, ansiedade, sonolência, dormência nas pernas, apatia, tontura, queda de pressão, fraqueza, mau-humor são os principais sintomas de desintoxicação no começo do jejum. É aí que muita gente desiste. Mas, não desistam! Quando jejuamos, rompemos com uma rotina alimentar que foi imposta ao corpo e à mente por muitos anos, e isso faz com que o organismo reaja de maneira negativa. No entanto, essa reação negativa é temporária, e, logo que o organismo percebe que está sendo poupado e lhe está sendo dada a oportunidade de se revigorar e desintoxicar, ele passa a aceitar o jejum com mais facilidade.
Passados estes sintomas, o organismo se estabiliza, a dor e a fome passam e, a partir desse momento, você pode aproveitar principalmente o lado espiritual, sendo capaz de contemplar a paz e a iluminação interior. É nesse estágio que os pensamentos se desprendem, que a luxúria esfria e que o corpo relaxa, pois enquanto os chakras inferiores não são estimulados pela digestão, os superiores podem trabalhar mais, estimulando a percepção espiritual. Portanto, mantenha sempre a força de vontade e a determinação para passar pelos momentos difíceis da fase inicial, sabendo que depois virão momentos de glória. É como cruzar seu deserto interior para chegar a um oásis espiritual.
OPÇÕES DE JEJUM
O jejum completo, mesmo que seja o ideal, não é obrigatório e nem um fator determinante para se obter os inúmeros benefícios do Ekadashi. Para saber qual tipo de jejum melhor se adapta a você, confira as opções abaixo.
Completo: No dia anterior, coma apenas frutas no desjejum. No almoço, faça uma refeição completa, porém leve. Pelo resto do dia, só é permitido beber água. No Ekadashi, faça jejum completo de água e comida. Na manhã seguinte, durante o horário permitido, é recomendado quebrar o jejum com água de coco ou limonada com uma pitada de sal e açúcar, mas pode ser apenas água ou chá também. Continue jejuando de comida até o almoço, quando poderá fazer uma refeição leve com grãos (opcional), como vitaminas, saladas, massas, sopas, arroz com sal e ghi etc. No jantar, faça também uma refeição leve.
Semi-completo: No dia anterior, coma normalmente no desjejum e no almoço. No jantar, faça uma refeição que não contenha grãos. No Ekadashi, faça jejum completo de água e comida. Na manhã seguinte, o mais recomendado é quebrar o jejum, no horário permitido, com água de coco ou limonada com uma pitada de sal e açúcar, mas pode ser água ou chá também. Continue jejuando de comida até o almoço, quando poderá fazer uma refeição leve com grãos (opcional), como vitaminas, saladas, massas, sopas, arroz com sal e ghi etc. No jantar, faça também uma refeição leve.
Alternativo 1: No dia anterior, coma normalmente no desjejum e no almoço. No jantar, faça uma refeição leve e sem grãos. No Ekadashi, faça jejum de água e comida até o meio-dia. No almoço, faça uma refeição leve com qualquer um dos alimentos permitidos. Em seguida, beba apenas água até o fim do dia. Na manhã seguinte, durante o horário permitido, quebre o jejum com grãos e retome sua dieta habitual a partir do almoço.
Alternativo 2: No dia anterior, faça três refeições normalmente. No Ekadashi, faça jejum de água e comida até o meio-dia. No almoço e no jantar, faça uma refeição leve com qualquer um dos alimentos permitidos. Na manhã seguinte, durante o horário permitido, quebre o jejum com grãos e retome sua dieta habitual a partir do almoço.
Alternativo 3: No dia anterior, faça três refeições normalmente. No Ekadashi, faça as três refeições com os alimentos permitidos. Na manhã seguinte, durante o horário permitido, quebre o jejum com grãos e retome sua dieta habitual a partir do almoço.
Obs. 1: Baseado no que foi apresentado como alternativo, você poderá adaptar de acordo com suas necessidades e preferências, sem precisar nos comunicar.
Obs. 2: Gostaríamos de esclarecer sobre a verdadeira regra do jejum de Ekadashi, sobre o que pode ou não comer. Em outros grupos de Ekadashi, vemos que há uma cobrança exagerada e desnecessária de não poder comer também folhas verdes, temperos, tomate, berinjela etc. No entanto, isso não procede. A regra universal para o jejum de Ekadashi é não ingerir todos os tipos de grãos, como cereais, feijões e lentilhas. O que pode acontecer é que, em diferentes missões na Índia, cada mestre pode exigir que se siga um cardápio diferente por razões pessoais. Sendo assim, queremos que você se sinta mais à vontade para fazer seu jejum e também possa recomendar para outras pessoas, sem que precise fazer austeridades além do necessário. Contudo, recomendamos você evitar também o consumo de ovos, carnes, alho, cebola e cogumelos, pois são alimentos que intoxicam o organismo, aumentam a luxúria, a ira e, de acordo com a medicina tradicional indiana (Ayurveda), nunca deveriam ser consumidos. Então, se, pelo menos no dia de Ekadashi, você conseguir evitar, será muito benéfico.
DICA RÁPIDA SOBRE COMO QUEBRAR O JEJUM
Se você não comeu nem bebeu durante o jejum, pode quebrá-lo só com água, ou frutas, ou vegetais, ou grãos. Se você bebeu só água, pode quebrá-lo só com fruta, ou vegetais, ou grãos. Se você comeu só frutas, pode quebrá-lo só com vegetais ou grãos. Se você comeu vegetais, pode quebrá-lo só com grãos.
Outra dica importante na hora de quebrar o jejum completo ou semi-completo é controlar a quantidade de comida a ser ingerida. Mesmo sentindo muita fome, é melhor comer menos e esperar até um pouco mais tarde para comer novamente, pois se houver algum exagero, seu corpo não será capaz de digerir, causando assim uma indigestão, seguida por outros inconvenientes.