De acordo com a tradição védica, ser lacto-vegetariano ou vegano não é tudo. É preciso conhecer o verdadeiro papel da alimentação em relação direta com o propósito da vida. Qual a finalidade de mantermos um corpo saudável e, consequentemente, qual a melhor maneira de utilizarmos nossa energia e saúde? No Srimad Bhagavatam está dito: “kamasya nendriya-pritir labho jiveta yavata jivasya tattva jijnasa nartho yas ceha karmabhih – Os desejos da vida humana nunca devem ser direcionados para a gratificação dos sentidos. Deve-se desejar somente uma vida saudável, ou a autopreservação. Uma vez que o nascimento humano destina-se exclusivamente à indagar sobre a Verdade Absoluta, nada mais deveria ser o objetivo de nossos esforços”. Obter um nascimento humano é algo muito raro e, portanto, devemos utilizar nossos sentidos e mente no serviço a Deus e não aos nossos sentidos. Tudo o que foi criado, incluindo nossos sentidos, corpo e mente, pertencem a Deus e devem ser utilizados em Seu serviço, para Sua satisfação exclusiva.
Mesmo que tenhamos acesso a um alimento puro, orgânico e livre de qualquer exploração, ainda assim existem impurezas mais sutis, como carma e pecados, que só poderão ser removidos quando o alimento for consagrado como uma oferenda a Deus. No simples ato de cultivar a terra, por exemplo, estamos inadvertidamente matando vários seres e, por isso, incorremos em pecado. Além disto, o meio de produção deste alimento pode também ter envolvido exploração humana ou animal. Portanto, mesmo que Deus tenha recomendado que nos alimentemos de frutas, vegetais e leite, se não oferecermos estes alimentos a Ele, ainda assim estaremos enredados em uma cadeia de reação cármica que, definitivamente, nos manterá presos a este mundo material.
No Gita 3.13-15, Krishna afirma: “Os devotos do Senhor são liberados de todos os tipos de pecados porque se alimentam somente daquilo que foi oferecido a Ele. Aqueles que preparam o alimento para o gozo do sentido pessoal, comem somente o pecado. Nos Vedas estão prescritas as atividades reguladas e os Vedas são diretamente manifestados pela Suprema Personalidade de Deus. Consequentemente, a transcendência que tudo permeia está eternamente situada no ato da oferenda”. Por este motivo, o alimento oferecido a Deus é chamado de anna-brahma, alimento transcendental, ou prasada, a misericórdia de Deus na forma de alimento.
O alimento que foi oferecido a Deus se torna completamente livre de qualquer contaminação material e devido a seu poder espiritual é capaz de nos libertar do ciclo de nascimentos e mortes. Portanto, qualquer alimento que venhamos a preparar, deverá ser oferecido a Deus antes de ser consumido. Não basta agradecermos pelo alimento. Devemos oferecê-lo a Deus, reconhecendo que Ele é o desfrutador supremo e deve ser o primeiro a comer. Tudo deve retornar à sua origem para que se feche um ciclo. Nós não criamos nada, nem mesmo temos controle sobre nosso próprio nascimento. Tudo vêm de Deus e a Ele deve retornar. Desse modo, honrando este alimento abençoado por Deus, estaremos consumindo algo totalmente purificado, que nos ajudará a controlarmos os nossos sentidos, controlarmos nossa mente e termos inspiração para amá-lO e servi-lO cada dia melhor.
No Bhagavad-gita 9.27, Krishna diz para oferecermos ao Senhor tudo o que comemos, os nossos sacrifícios, os frutos do nosso trabalho e finalmente nossa própria vida e alma. Só assim poderemos desenvolver amor imaculado por Ele e alcançar Sua morada eterna. Krishna também diz que estará satisfeito se apenas O oferecermos com amor uma fruta, uma folha, água ou flores. Não há a necessidade de fazermos oferendas caras e opulentas. Krishna quer, na verdade, Se alimentar do nosso amor.
No Bhagavad-gita 17.8-9-10, Krishna explica: “Os alimentos no modo da bondade (sátvicos) aumentam a duração de vida, purificam a existência, dão força, saúde, felicidade e satisfação. Estes alimentos saborosos e nutritivos incluem grãos, laticínios, frutas e legumes”.
Não basta apenas cuidarmos da saúde, preservarmos o meio-ambiente e protegermos os animais; tudo isto é apenas um complemento à vida humana. O verdadeiro motivo de estarmos neste corpo é para fazermos o que nenhum outro ser pode fazer: religião. Ou seja, amar e servir a Deus.
Deus criou o ser humano à Sua imagem e semelhança com a finalidade de permitir que a alma possa expressar sua natureza eterna através do serviço devocional, ou Bhakti-yoga. E a expressão maior deste amor consubstancia-se no serviço a Deus. Esta é uma prerrogativa exclusiva do ser humano e de nenhuma outra espécie. Portanto, ser humano significa oferecer a Deus tudo aquilo que possuímos, e aceitar Sua misericórida na forma de Seus remanentes. Isto é o que chamamos de prasada ou alimento divino.
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