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O Papel da Mulher na Cultura Védica




Existem muitas civilizações no mundo onde o respeito pelas mulheres e seu papel na sociedade são proeminentes, e outras onde o respeito por elas e seu status devem ser melhorados. O nível de civilidade e padrões morais e espirituais em uma sociedade pode muitas vezes ser medido pelo respeito e consideração demonstrado às mulheres. Ao longo dos milhares de anos da cultura védica, as mulheres sempre receberam o mais alto nível de liberdade, proteção e segurança.


A tradição védica sempre demonstrou elevada estima pelas mulheres e sabe, melhor do que nenhuma outra, valorizá-las e protegê-las. Vemos isto claramente através do respeito e honra que mantém na adoração à Deusa, que é retratada como a personificação feminina de qualidades e poderes sobrenaturais. Estas formas incluem as de Lakshmi (a deusa da fortuna), Sarasvati (a deusa da aprendizagem), Subhadra (a irmã de Krishna e a auspiciosidade personificada), Durga (a deusa da energia material), Kali (o poder do tempo) e Pritivi (a deusa da Terra). Todas essas deusas simbolizam a potência divina personificada e, por isso, são chamadas de shakti. Ou seja, sem elas os deuses são incapazes de realizar qualquer coisa.


"As mulheres devem ser honradas e adoradas por seus pais, irmãos, maridos e cunhados. Onde as mulheres são honradas, os deuses ficam satisfeitos; mas onde elas não são, nenhum ritual sagrado rende recompensas. Quando as mulheres vivem em aflição, a família perece rapidamente; mas naquela família onde elas são felizes, haverá sempre prosperidade." (Manu Smriti III.55-59).


Bhishma explicou sobre o futuro daqueles que não honram as mulheres:


"Ó soberano da terra (Yuddhisthira Maharaj), a linhagem na qual filhas e noras entristecem-se com maus-tratos, será destruída. Quando essas mulheres amaldiçoam estas famílias, tais lares perdem seu charme, prosperidade e felicidade."

(Mahabharata, Anushashanparva, 12.14)


Além disso, quando uma mulher é convidada para viver em outra família, através do casamento, ela vem "para governar junto com o marido sobre os outros membros da família, como se fosse uma rainha". (Atharva-Veda 14.1.43-44) Esse tipo de igualdade raramente é encontrado em qualquer outra escritura religiosa. Devido a esta tradição, a história da Índia conta com muitas mulheres que alcançaram uma posição de destaque na política, artes, educação, ciência ou mesmo como guerreiras no campo de batalha.


Há também mulheres rishis e yoguinis, como Visvavara, Shashvati, Gargi, Maitreyi, Apala, Ghosha e Aditi, que promoveram a espiritualidade através da revelação do conhecimento védico. Por exemplo, o 126º hino do primeiro livro do Rig-Veda foi revelado por Romasha; e o hino 179º do mesmo livro foi revelado por Lopamudra. Na tradição Gaudiya Vaishnava, podemos citar grandes mestras como Jahnava Thakurani, Gangamata Goswamini, Sita Thakurani. Temos também o caso de Draupadi, esposa dos cinco Pandavas, que ficaram famosos por terem lutado ao lado de Krishna na batalha de Kurukshetra. De acordo com o padrão védico, é a mulher que escolhe com quem vai se casar. No famoso épico Ramayana, Sita Devi, a filha do rei Janaka, dentre centenas de candidatos que desejavam se casar com ela, escolheu o príncipe Rama para ser seu esposo, colocando uma guirlanda de flores ao redor do pescoço Dele. Infelizmente, esta tradição foi quebrada posteriormente através da prática de casamentos arranjados.


No entanto, a maneira pela qual as mulheres são tratadas hoje em dia é um indicador de nossa barbárie social. Enquanto os homens podem ter mais força física, as mulheres têm mais energia interna e emocional. Quando as mulheres são oprimidas, toda a família e a sociedade são abaladas, enfraquecendo toda uma civilização.


Uma das especialidades da mulher é que ela é mãe. Ela carrega e nutre consigo o futuro da humanidade, e por isto merece um cuidado especial. Na cultura védica, ensina-se que todo homem deve ver e respeitar cada mulher como se fosse sua mãe e toda menina como sua própria filha ou irmã. Assim, a mulher deixa de ser vista como um objeto de desfrute e passa a ser um ente querido que merece todo respeito.


A natureza materna das mulheres sempre foi valorizada na cultura védica. Afinal, o fundamento da vida familiar e a primeira fase de criação dos filhos, depende delas. Ser mãe não é uma obrigação e muitas mulheres optam por não ter filhos, mas a história mostra que a maioria delas optou por este destino. São elas que geralmente suprem o amor, a compreensão e a nutrição para o desenvolvimento de seus filhos de uma maneira especial, que é impossível de ser substituída pelos homens.


No Mahabharata (Shantiparva, 30,9), Bhishma Pitamaha disse:

"O professor que ensina o verdadeiro conhecimento é mais importante do que dez instrutores. O pai é mais importante do que dez professores, e a mãe é mais importante do que dez desses pais. Não existe guru maior do que a mãe."


Nossa própria vida é um presente da vida de nossa mãe. Fomos nutridos por ela, passamos nove meses em seu ventre e seu amor nos sustentou. A tradição védica considera que temos sete diferentes tipos de mães: a mãe biológica, a esposa do guru, a rainha, uma brāhmaṇi, a vaca, a enfermeira e a mãe Terra. Ao exibir as qualidades da maternidade, as mulheres devem ser calorosas e ternas, fortes e protetoras, mas também estabelecer as bases da disciplina e do bom senso de acordo com as escrituras védicas, educando seus filhos com o rigor necessário.


Além disso, é a mulher que dá beleza e cria uma atmosfera inspiradora através da decoração da casa e do gerenciamento da mesma. É ela quem prepara os pratos nutritivos e saborosos que dão prazer e força para toda a família. Aquelas mulheres que têm essa disposição intrínseca para o cuidado da casa, também serão defensoras naturais dos padrões morais e princípios espirituais extremamente necessários para o bem estar de toda civilização védica. Por suas próprias tendências e expressões emocionais, elas também são devotas naturais de Deus e cumprem com a adoração das deidades no altar da casa. É muito afortunada aquela mulher que reconhece o inestimável valor de cuidar da casa e da família, sem achar que isso seja um papel inferior ou um fardo insuportável.


De acordo com o sânscrito, a palavra pathni, esposa, tem três significados: Pathni (aquela que se une ao esposo), Dharmapathni (aquela que acompanha o marido no caminho do dharma) e Sahadharmacharini (aquela que guia o esposo através do dharma).


Quando o respeito às mulheres diminui, a sociedade perde o equilíbrio e a harmonia. No domínio espiritual, homens e mulheres têm uma posição equivalente, pois somos todos almas. No entanto, quando consideramos a realidade mundana, as diferenças devem ser respeitadas e colocadas à luz da razão. Um não é superior ao outro, mas cada qual possui talentos particulares que contribuem para uma sociedade equilibrada e para o serviço a Deus. Sendo assim é uma ilusão achar que mulheres devem ser tratadas como homens e homens devem ser tratados como mulheres. É claro que existem exceções e que alguns homens são naturalmente bons em papéis femininos e algumas mulheres são talentosas em ocupações masculinas. Mas o ponto é que as mulheres e os homens devem trabalhar cooperativamente como as asas gêmeas de um pássaro que, só assim, poderá voar cada vez mais alto.


Enquanto houver um espírito de competição e de desrespeito mútuo, jamais poderemos encontrar harmonia. Este conflito institucionalizado das sociedades materialistas tem aumentado tanto na vida familiar quanto na vida corporativa, o que contribui ainda mais para o desequilíbrio social. Se cada um souber o seu valor e reconhecer a necessidade do outro, não faltarão motivos para ambos serem felizes.


Quando o casal está disposto a ser flexível para com as necessidades um do outro e seguir em frente em amor e compreensão mútua, o relacionamento pode ir além do plano físico e emocional, e chegar à união espiritual. Isso significa que a união entre um homem e uma mulher deve ter como finalidade última a cooperação mútua para a realização espiritual de ambos.


Um exemplo clássico dessa relação são os pais de Krishna, Yashoda e Nanda. Eles mantinham um casamento estritamente religioso, sem nenhum interesse em ter filhos. No entanto, seus parentes fizeram uma grande chantagem emocional, pressionando-os a terem um filho. Temendo que a relação familiar pudesse ser prejudicada, eles oraram para Deus, dizendo que a única maneira que eles aceitariam ter um filho, seria se o próprio Deus se tornasse o filho deles. Realizando o pedido do casal, Krishna nasceu do ventre de Yashoda.


"Você deve saber que todos nós somos almas espirituais. Todas as almas são muito belas. Quanto à forma transcendental da alma, não há dúvida sobre quem é menos inteligente ou mais inteligente. Se as mulheres são de tão baixa classe e de tão baixa inteligência, como poderiam as gopis (consortes de Krsna em Vrindavana) terem superado até mesmo Krishna. Srimati Radhika sempre supera Krishna em beleza, em inteligência e em todos os demais aspectos. Por que nosso guru-parampara, começando por Brahmá e Nárada, adoram as gopis? Por que Sri Caitanya Mahaprabhu - que é o próprio Krsna - adotou o humor de Srimati Radhika? Se as mulheres são inferiores, por que nós, Gaudiya Vaishnavas, queremos ser gopis? Quem em nosso parampara da Gaudiya não quer ser gopi? Queremos servir o Senhor Krishna e Srimati Radhika na forma feminina, não na masculina. Então, como é possível que a forma feminina seja inferior? Jamais pense assim." 


Srila Bhakti Vedanta Narayana Goswami Maharaj

Haia, Holanda. 12 de julho de 2005







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